29/07/2022
O destaque foi para iniciativas que usam insumos da natureza como eucaliptos de reflorestamento e resíduos da cana
Legenda da foto: A GeoBiogás & Tech foi uma das vencedoras, com projeto que pretende ampliar a geração de biogás e biometano a partir de resíduos da cana de açúcar. (Foto: Mario Miranda Filho)
Por Lia Hama (Época Negócios)
A agenda ESG (ambiental, social e de governança) deve ser enxergada como um campo de oportunidades para transformar o país numa potência de sustentabilidade. “O Brasil tem o maior potencial de energia solar, eólica e de biomassa do planeta. Ainda assim, há quem diga que o petróleo é nosso passaporte para o futuro. Mas será que não seriam essas fontes de energia renovável mais antenadas com o mundo de hoje?”, questiona Tasso Azevedo, coordenador-geral do MapBiomas (Mapeamento Anual da Cobertura do Solo no Brasil) e coordenador do Sistema de Estimativas de Gases de Efeito Estufa do Brasil (SEEG). “O Brasil não é uma potência econômica, tecnológica ou militar, mas certamente pode se tornar uma potência de sustentabilidade”, acrescentou.
O engenheiro florestal foi entrevistado por Deborah Vieitas, CEO da Amcham Brasil (Câmara Americana de Comércio para o Brasil), durante a cerimônia de entrega da 39ª edição do Prêmio Eco, realizada na quinta-feira (28) em São Paulo. Criado pela Amcham em 1982 e divulgado com exclusividade pela Época NEGÓCIOS, o prêmio tem como objetivo valorizar empresas brasileiras comprometidas com a agenda ESG (ambiental, social e de governança).
Durante a entrevista, Tasso destacou que o setor privado precisa ter um papel mais pró-ativo e lutar contra a aprovação pelo Congresso de leis que ameaçam a Amazônia. “Não basta ficar indignado. Parlamentares estão votando regras que vão facilitar a grilagem e a legalização do garimpo em terras indígenas. É preciso evitar que isso aconteça”, alertou Tasso, que defende um protagonismo maior das empresas na defesa do bioma.
Monitoramento da derrubada de árvores
Tasso participou de um dos 28 projetos vencedores da edição deste ano do Prêmio ECO: o portal PlenaMata, lançado pela empresa de cosméticos Natura durante a 26ª Conferência da ONU sobre o Clima, no ano passado. Criado em parceria com o MapBiomas, o Hacklab e o InfoAmazonia, o portal permite o monitoramento do desmatamento da Amazônia Legal e reúne dados e conteúdos sobre o tema. A plataforma conta com um contador de árvores derrubadas por minuto, a partir de informações atualizadas diariamente.
"O desmatamento da Amazônia é um dos mais graves problemas ambientais da atualidade, pois compromete o equilíbrio do planeta e intensifica os efeitos das mudanças do clima, afetando a economia e a sociedade. O PlenaMata tem o objetivo de chamar a atenção para a questão e mobilizar esforços em torno de iniciativas de conservação e regeneração da floresta", afirma Denise Hills, diretora de Sustentabilidade de Natura &Co América Latina.
Outra iniciativa premiada que tem uma relação direta com a Amazônia é a PrevisIA, da Microsoft Brasil, realizada em parceria com Imazon e Fundo Vale. “É uma ferramenta de inteligência artificial que mapeia o território amazônico e consegue identificar as áreas com maior risco de desmatamento, incluindo terras indígenas, contribuindo para ações preventivas”, explica Daniela Aiach, diretora de Sustentabilidade na Amcham Brasil e responsável pelo prêmio há 22 anos.
Economia circular e logística reversa
Além de projetos de preservação da floresta amazônica, Daniela identificou uma tendência entre os projetos apresentados neste ano: a busca por soluções de economia circular e logística reversa, para minimizar os impactos causados pelo descarte inadequado de resíduos. O melhor exemplo desse movimento é a vencedora desta edição, a varejista de moda C&A, com o projeto Jeans Circular, que usou sobras de produção e reciclagem de peças usadas para compor coleção sustentável.
Outro premiado que chamou a atenção dos jurados foi o serviço de Coleta e Descarte Consciente lançado pela fabricante de eletrodomésticos Electrolux, que prevê a reciclagem de 12 mil refrigeradores, fogões e lavadoras no primeiro ano de implementação. “Hoje é possível pedir à Electrolux que venha retirar a sua geladeira velha em casa. A empresa faz a desfabricação do produto, separa o que pode ser reaproveitado e dá destino correto ao que não é reaproveitável. Isso era inimaginável alguns anos atrás”, diz Daniela.
Em busca do “Net Zero”
Propostas que buscam a emissão zero de gases de efeito estufa, o chamado “Net Zero”, também se destacaram neste ano. Uma delas foi a da CBA (Companhia Brasileira de Alumínio) - que, em parceria com a CamBio Energia, substituiu todas as seis caldeiras movidas à óleo e gás natural na cidade de Alumina (SP) por uma unidade de produção à vapor alimentada por madeira de eucaliptos de área de reflorestamento. Foi uma das primeiras refinarias no mundo a usar 100% do vapor proveniente de biocombustível, reduzindo as emissões de CO2 no processo produtivo do alumínio.
Outro projeto com a mesma meta foi o da GeoBiogás & Tech, que pretende ampliar a geração de biogás e biometano a partir de resíduos da cana de açúcar. Dessa maneira, cria-se uma fonte de energia limpa para geração de energia elétrica e como combustível para tratores e caminhões. A empresa enxerga um grande potencial a ser explorado pelo setor do agronegócio brasileiro, capaz de garantir a segurança energética com fontes limpas.
“Cada unidade agroindustrial é uma potencial geradora de biogás e biometano, que são insumos energéticos limpos, renováveis e de fácil acesso, e que têm ajudado empresas a descarbonizar sua produção e transporte. O biogás, além de nos guiar a um futuro de baixo carbono, garante independência e segurança energética ao nosso país”, destaca Alessandro Gardemann, CEO da Geo Biogás & Tech.