Evento discutiu soluções tecnológicas para o biometano, logística de distribuição e combustível de aviação sustentável
Por Agência FR
A 2ª edição do GeoDay apresentou soluções para descarbonização do agronegócio, setor responsável por quase 25% do PIB brasileiro. Com o tema "Descarbonizando o Brasil com o Agro", o evento mostrou efeitos positivos do uso de adubo orgânico, diferentes tecnologias para plantas de biometano, alternativas logísticas para distribuição do combustível – dutos e transporte rodoviário – e o desenvolvimento do mercado de combustível sustentável de aviação no Brasil, o SAF (sigla em inglês).
“Mostramos o que o biogás pode fazer. No caso da adubação orgânica, objetivo é pensar a integração de resíduos sólidos como uma grande fábrica. Na parte de logística, temos certeza que o biogás é o grande vetor para interiorizar a oferta de gás no Brasil, gerando economia circular com o ‘gás verde’. E temos ainda o combustível sustentável de aviação sustentável, que está em forte aceleração em todo o mundo'”, afirmou Alessandro Gardemann, CEO da Geo Biogás & Tech.
Adubo orgânico: transformar passivo ambiental em produto nobre para agricultura
No painel “Orgânicos na Adubação de Cana-de-Açúcar”, Gustavo Santos, sócio da KP Consultoria, apresentou cases de sucesso sobre o uso de adubos orgânicos nas plantações de cana-de-açúcar. Entre os fatores que justificam seu uso, explicou Santos, estão o baixo custo de obtenção do produto, a disponibilidade de grandes volumes, a necessidade de retirada dos resíduos dos pátios da indústria, o seu elevado valor fertilizante e a eficiência no fornecimento de nutrientes.
"Ou seja, estamos transformando um passivo ambiental em um produto nobre para a agricultura. A partir de resíduos que seriam descartados, estamos produzindo energia, melhorando a qualidade do solo e aumentando a produtividade. São benefícios econômicos e ambientais”, explicou Santos.
O painel também contou coma presença de João Iglézias, diretor de Operações Agrícolas da AGT, e Jari Souza, diretor Agroindustrial da Uisa. “Enriquecer o composto e voltar o carbono, com esses nutrientes e essa microbiota, para a produção agrícola. Dessa forma, a gente fecha o circuito de forma inteligente, economicamente viável e, do ponto de vista ambiental, extremamente competitiva”, afirmou João Iglézias. “Estamos melhorando não só o resultado como produtor de cana, mas todo o conceito de sustentabilidade da produção agrícola brasileira”, explicou Iglézias.
No segundo painel “Plantas de Biometano: diferentes soluções”, Alexander Roepke, sócio da Gruen Biogás, Guilherme Galhardo, engenheiro do Gruppo AB, e Alfredo Curioni, sócio da Ener Tratamento de Gases e Equipamentos, trataram sobre a escalabilidade dos projetos e as tecnologias para produção de biometano.
Geo Connect: melhor resultado, máxima eficiência
A excelência na operação também foi o foco da apresentação feita por Philipe Gabillaud, gestor de Operações, Data Analytics e Customer Service da Geo Biogas & Tech. Ele detalhou o funcionamento do Geo Connect, “uma solução de infraestrutura e gestão operacional, que aumenta a competitividade, acelera a curva de maturidade das plantas, promove melhores resultados e máxima eficiência energética”.
Desenvolvido pela Geo, este é um sistema de inteligência que acelera o conhecimento dos produtores sobre cada planta de biogás, desde a partida da unidade até a atingir a maximização dos resultados. “Nosso foco é a excelência operacional, acabar com o medo do desconhecido na operação”, concluiu Gabillaud.
Distribuidoras e transportadores: mercado demanda por biometano
A logística para a distribuição do biometano é um dos principais fatores para a expansão do uso do gás verde no Brasil. “Queremos que esse mercado se desenvolva”, disse Rafael Lamastra Jr., CEO da Compagás.
A distribuidora de gás do Paraná apresentou os planos da empresa para a expansão do uso do biometano no Estado. Na visão dele, há diferentes formas de desenvolver o uso do combustível, atendendo grandes e pequenos investimentos e, inclusive, encontrando arranjos comerciais que possam integrar a produção à rede da distribuidora. Hoje, a empresa tem 860 quilômetros de rede no Paraná. Diretor da Compagás, Fabio Morgado, contou que a empresa fez uma chamada pública para projetos de biometano, finalizada em 2023, que resultou em um volume potencial de 380 mil metros cúbicos/dia, por meio de 22 propostas e 12 supridores. Essas chamadas devem se repetir anualmente.
Leandro Cesar Frin, gerente de projetos da GasBrasiliano, mostrou o potencial do biometano em São Paulo, onde está 57% da cana-de-açúcar plantada no Brasil. O estado tem um potencial de produção de 5,5 milhões de metros cúbicos/dia de biometano, por meio das 120 usinas instaladas na área de concessão da distribuidora. Frin também falou sobre o primeiro gasoduto verde do Brasil, que entrou em operação em fevereiro deste ano.
O trajeto de 65 quilômetros (km) de extensão e capacidade de até 25 mil m³/dia, o gasoduto leva o biogás produzido pela usina da Cocal, a partir de resíduos nobres da cana-de-açúcar (vinhaça, palha e torta de filtro), para os municípios de Presidente Prudente, Narandiba e Pirapozinho, em São Paulo. Sócia da biofábrica, a Geo Biogás & Tech foi também responsável pelo aporte tecnológico que garantiu a produção de biometano durante todo o ano - na safra e, principalmente, na entressafra da cana-de-açúcar - e viabilizou o negócio. A iniciativa, segundo Frin, pode ser reproduzida em outros pontos da área de concessão da Gás Brasiliano. Chamado de projeto Cidades Sustentáveis, o projeto resultou de um investimento de R$ 180 milhões.
Ainda sobre logística, os diretores das empresas Contatto e da CTG, Walter W. Vighy e Wagner Longo, respectivamente, apresentaram alternativas de transporte e dados sobre a competitividade dos diferentes combustíveis. “Na nossa visão, a distribuição não é um entrave, temos tecnologia, temos experiência, o que precisamos é desenvolver o negócio”, afirmou Wagner Longo, da CTG. Para Walter Vighy, o mercado está sedento por biogás. “É fundamental para descarbonização e para o país atender acordos internacionais. Nós, transportadores, não somos concorrentes do duto, somos complementares. Quando duto vem, é sinal que vamos mais longe. O ecossistema precisa dos dois modais de transporte", declarou Vighy. Também participou da palestra Guilherme Takamine, executivo de Estratégia da Shell.
Combustível renovável de aviação: biogás pode atender demanda doméstica
O Brasil tem potencial para produzir, a partir do biogás, 8 bilhões de litros de combustível renovável de aviação (SAF, na sigla em inglês), volume suficiente para atender a demanda doméstica do país. A partir de 2027, os aviões só poderão levantar voo para destinos internacionais se compensarem as emissões por meio da compra de créditos de carbono ou se forem abastecidos por uma mistura mínima de SAF. A Geo Biogás & Tech está desenvolvendo uma planta de demonstração tecnológica para produção de SAF por meio do biogás.
"O Brasil é um grande produtor não só de matéria-prima, como também um grande exportador e desenvolvedor de tecnologia para produção de combustíveis renováveis. Isto mostra a riqueza do Brasil frente ao mundo. As empresa querem ver o SAF sendo produzido no Brasil", afirmou Tarcísio Soares, da Airbus Brasil, maior empresa de aviação do mundo.
O Brasil atualmente não dispõe ainda de legislação autorizando a comercialização do SAF no país. Outro entrave é o preço do produto, ainda duas vezes mais caro que o combustível de origem fóssil. "Mas essa diferença já foi oito vezes superior", explicou Amanda Gondim, professora de Química do Petróleo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). No mundo, já foram produzidos 34,9 bilhões de litros de SAF, distribuídos em 57 aeroportos. "No Brasil, temos muita matéria-prima, mas ainda não temos biorefinarias para produzir o SAF. No mundo, é o inverso, tem infraestrutura, mas não tem biomassa".
A íntegra do 2º GeoDay está disponível no canal da Geo no Youtube (https://www.youtube.com/watch?v=IHNiYA72jnI&t=27s).