Gardemann se referiu a estrutura produtiva disponível no Brasil e ao amplo acesso a matérias-primas orgânicas que poderiam ser usadas para substituir os combustíveis fosseis por alternativas similares de origem renovável. Trata-se de uma realidade que já está acontecendo por meio de uma série de iniciativas demonstradas durante as apresentações e palestras realizadas durante o evento.
Nesta edição, o GeoDay reuniu especialistas, reguladores e profissionais do setor de bioenergia para discutir tendências e perspectivas de futuro com foco no uso do carbono verde como instrumento da desfossilização da economia. O evento foi dividido em três blocos: inovação, soluções Geo e mercado.
Na palestra de abertura, Eduardo Falabella, coordenador da pós-graduação de engenharia química da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), mostrou o vasto campo a ser explorado para a substituição de fontes fósseis por biocombustíveis. Apresentou as diferentes rotas para o uso de matérias-primas orgânicas como fontes de carbono verde para produção de combustíveis do futuro descarbonizados. “A nova postura mundial reconhece a importância de uma visão ética e sustentável do planeta. Essa mudança torna o uso do carbono verde uma obrigação”, conclui Falabella.
Rogério Zampronha, CEO da Prumo Logística, detalhou a visão de futuro do Porto do Açu, empreendimento localizado no litoral fluminense e onde está sendo implantado um hub de transição energética. O executivo apresentou as oportunidades que se abrem com a indústria de baixo carbono e as diferentes soluções logísticas que passam a ser exigidas para transporte dos biocombustíveis e insumos energéticos do carbono verde.
Em 2023, a Geo e a Prumo iniciaram um estudo de viabilidade para instalação de uma planta de geração de biogás no porto-indústria ou em regiões adjacentes. Está sendo avaliada a instalação da fábrica e também o uso da infraestrutura logística de apoio do Açu, incluindo plantas de purificação, produção de biocombustíveis, liquefação e unidade de produção de hidrogênio de baixo carbono.
Durante o painel “Tendências regulatórias e oportunidades para a bioeletricidade”, Fernando Mosna, diretor da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), abordou a liderança brasileira na geração de energia limpa, a partir de uma diversificada matriz com fontes hídrica, solar e eólica, além de biomassa e biogás. Para o diretor, a biomassa tem papel essencial na descarbonização da nossa matriz.
Giovane Rosa, CEO da Gás Orgânico, apresentou o bioGNL como alternativa para ampliar o transporte do biometano e os desafios para aumentar a escala de aplicações do energético. Outro assunto discutido foi o combustível de aviação sustentável (SAF, na sigla em inglês). A palestra foi conduzida por Amanda Gondim, coordenadora da Rede Brasileira do Bioquerosene e Hidrocarbonetos Sustentáveis para Aviação (RBQAV). Ele apresentou o status atual do marco regulatório e as rotas tecnológicas válidas. A Geo bio gas & carbon está desenvolvendo uma planta de demonstração tecnológica para produção de SAF por meio do biogás, que deve iniciar operações até o final deste ano.
João Paulo Mesquita Villela, da área de Inteligência de Mercado de Gás e Energia da Petrobras, falou sobre os desafios para crescimento da cadeia de biometano. Um deles é a logística, já que a malha de gasodutos está concentrada no litoral do país. Para Villela, uma das mensagens é estar atento à produção descentralizada, que pode estar mais próxima de consumidores. Hoje, citou Villela, o Brasil tem 936 plantas de biogás e apenas 27 produzem biometano.
Soluções e mercado
Na segunda parte do evento, foram apresentadas soluções tecnológicas e projetos em andamento da Geo bio gas & carbon com parceiros. Com três usinas em operação e outras quatro unidades em operação, a Geo é uma empresa pioneira no desenvolvimento da cadeia de biogás e do biometano no País. Um dos seus diferenciais é o fato de fazer a biodigestão combinada de resíduos sólidos e líquidos, além de conseguir garantir uma oferta constante do energético, independente da safra. “A gente consegue fazer isso funcionar empregando alto nível de tecnologia e com controle sobre o processo e eficiência operacional”, explicou Guilherme Marangon, engenheiro de processos da Geo.
Jurandir de Oliveira, diretor Agrícola da Cocal, apresentou o case da usina de Narandiba (SP), a primeira com gasoduto dedicado ao biometano no Brasil. A unidade é uma joint venture da Cocal com a Geo. Oliveira mostrou os diferentes usos que a Cocal faz da cana-de-açúcar e de seus resíduos: produção de etanol, de açúcar, de CO2, de energia elétrica, de levedura seca e de biometano. "A gente acredita muito nesse modelo de economia circular, e a cana nos dá uma contribuição incrível", contou Oliveira. A Cocal produz hoje 33 milhões de metros cúbicos (m3) de biogás; e 9 milhões Nm3 de biometano.
Já Fabio Bearzi, diretor de Inovação da AESA, mostrou os benefícios da parceria com a Geo, que fornece biometano para sua fábrica de peças automotivas no Paraná. A empresa, que trocou o GLP – combustível fóssil – pelo biometano conseguiu evitar a emissão de 733 toneladas de CO2, desde outubro de 2022. A descarbonização da produção tem auxiliado a empresa na atração de novos clientes e na relação com instituições financeiras para obtenção de crédito.
Segundo maior consumidor de gás natural do Brasil, o setor de cerâmica está prestes a passar por uma grande transformação: substituir o combustível fóssil por biometano no seu processo produtivo. Foi essa a experiência que Benjamin Ferreira Neto, vice-presidente do Conselho de Administração da Anfacer (Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos, Louças Sanitárias e Congêneres) e da Aspacer (Associação Paulista das Cerâmicas para Revestimento), e Luís Fernando Quilici, diretor da Aspacer, contaram aos participantes do 3º GeoDAy. A meta é suprir 50% da demanda energética do polo cerâmico do estado de São Paulo até 2030. O projeto começa em 2025 a partir do uso de biometano por 10 plantas industriais. Hoje, o consumo total do setor é de 2 milhões de metros cúbicos/dias de gás natural.
Alexandre Alonso Alves, chefe geral da Embrapa, falou sobre biofertilizantes, a importância desses insumos para o crescimento do agronegócio. Atualmente, a dependência brasileira de fertilizantes chega a 90%.